carregando...
Profissão Atitude
O lenho verde e o lenho seco
O lenho verde e o lenho seco
ABRAHAM SHAPIRO

Eu sou Judeu. Mas um dos meus princípios de vida é o gosto de aprender de todas as sabedorias. E isso inclui as muitas religiões do mundo.

Jesus, que também era Judeu, dirigindo-se às mulheres que choravam  no caminho de sua crucificação, advertiu-as a que não chorassem por ele, mas por elas mesmas e por seus filhos, “pois, se fazem isto com o lenho verde, o que não farão com o lenho seco?”,  em suas próprias palavras.

A lição contida neste verbal é um dos indicadores que eu mais utilizo na identificação das misteriosas facetas do comportamento humano.

Permita-me explicar.

Há alguns anos, fui contratado para orientar um processo sucessório numa indústria situada numa pequena cidade do interior do estado de São Paulo. O meu trabalho encontrava-se em fase de diagnóstico dos traços de personalidade dos filhos e dos pais a fim de recomendar as medidas necessárias para o desenvolvimento daquele que havia sido indicado para ser o líder entre os filhos.

O rapaz, que já havia sido empossado como Diretor Geral, parecia inteligente, lia ótimos livros e tinha formação universitária que pressupunha competências importantes para o cargo. Mas isso não era suficiente. Eu precisava observar mais.

Tudo parecia bem até o dia em que, numa reunião da família com gerentes da empresa para tomada de decisões, presenciei uma cena chocante e definitiva sobre a minha busca. O moço elevou a voz com seus pais a um nível tão ultrajante e proibitivo que deixou os gestores, os irmãos e a mim bastante constrangidos. Na mesma ocasião, minutos depois, ele repetiu  a brutalidade com sua irmã que, não se contendo, pôs-se a chorar diante de todos. Um quadro pavoroso.

Dias depois, um funcionário me procurou queixando-se de que, apesar de ter incrementado comprovadamente os resultados de seu departamento a patamares nunca alcançados antes, foi surpreendido com sua demissão sumária. O motivo não era outro senão a mera antipatia do diretor. Eu enxerguei que neste caso, além de tudo havia inveja e ciúme, vez que o colaborador era querido por seus subordinados e exercia poder único de motivação sobre todos – coisa que o diretor nunca havia conseguido, por mais esforço que fizesse em cursos e  leitura.

Recordei-me das palavras do fundador do cristianismo e mencionadas anteriormente. Se o sucessor foi capaz de desferir palavras cruéis e ofensivas aos próprios pais, o que não faria para humilhar  contratados  que, em sua visão pessoal desajustada, deviam atuar como seus servos ou capachos?

Esta é a prática moral:  "Quando não existe respeito mínimo sequer pelos que comem à mesma mesa, o que não esperar em  estupidez e maus tratos pelos que são de fora?"